Na década de vinte, as pestes assolavam a humanidade. Foram muitas: Febre Bubônica, tuberculose, Malária, dentre outras. Em determinadas regiões, morriam toda a família, chegavam a fechar a casa e na porta pintar uma cruz preta.
Assim acontecia. O coveiro Clemente foi chamado para enterrar uma criancinha ou anjinho como chamavam naquela época. Na casa da criança praticamente todos já tinham se ido, era num lugarejo por nome de Arapuá, nem sei se ainda existe hoje, era no interior do Ceará, próximo ao lugarejo onde nasci, pouco povoado naquelas épocas, era puro mato como dizíamos. E lá vai o homen enterrar aquele pequeno morto, o corpo já pedia cova , o cemitério era um tanto distante, mas lá ia Clemente assoviando pela estrada. Era madrugadinha, quase amanhecendo o dia, era esta a hora porque o pobre coveiro, não vivia só disso, tinha outros afazeres também, mas este era um predileto e lhe rendiam alguns réis (o dinheiro da época). Ao chegar ao cemitério povoado por cruzes de pouco feitio, Clemente entrou e como o dia ainda não havia amanhecido, colocou a caixinha onde continha o pequeno defunto e resolveu tirar um cochilo ao lado dos sete palmos já cavos. Mas, o pobre coveiro estava mesmo cansado, e dormiu mais do que devia. Mesmo assim, o dia ainda não tinha amanhecido, mas a barra já estava despontando quando Clemente foi incomodado por alguém que sequer seu nome sabia pronunciar.
Vamos Kelemente, já é tarde e quero descansar.
O coveiro acordou meio atordoado dizendo para si mesmo que dormiu demais e vamos meu anjinho vou te por a descansar. Daí então arrumou com carinho o pequenino caixão improvisado dentro da cova, lhe deu adeus e preencheu os espaços faltosos com areia abundante até que em segundos já não via mais a caixinha com o pequeno. Para Clemente que tanto fizera aquele serviço, este em particular o fez entender que apesar do espírito deixar o corpo, o cadáver é bom que não sufoquemos por muito tempo, a ida para a cova.
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